A arqueoastronomia consiste no estudo da forma como as pessoas compreenderam, conceberam e usaram os fenómenos no céu, e o papel que este teve nas suas culturas, através da análise dos seus vestígios materiais. De acordo com os registos históricos e etnográficos, a maioria (se não todas) das sociedades olhava para o céu e relacionava-se com ele. As histórias, os mitos, a arte, as crenças religiosas, os rituais e o simbolismo de muitas culturas estão associadas ao Sol, à Lua, às estrelas e aos planetas. Na maior parte dos casos em que foram encontrados textos ou trabalhos etnográficos académicos, isso é facilmente verificável. No entanto, quando um estudo se estende a civilizações mais antigas, na pré-história (antes da escrita), os investigadores têm que se basear nos vestígios e ruínas deixados para trás. Neste caso, a investigação é baseada nos registos arqueológicos, que por sua vez são usados para revelar a noção que as civilizações antigas tinham de esfera celeste e dos seus objetos.
A arqueoastronomia foca-se assim nos elementos materiais presentes nos registos arqueológicos. Por exemplo, permite reconhecer se algumas estruturas particulares (casas ou monumentos) foram intencionalmente construídas de forma a captar a luz solar em dias particularmente importantes do ano. Exemplos famosos disso incluem a tumba de Newgrange (Irlanda), cuja entrada e telhado capturam o nascer do Sol no solstício de Dezembro; e o eixo principal de Stonehenge (Reino Unido), que se alinha com o pôr do Sol, também no solstício de Dezembro. As maiores evidências arqueológicas demonstram que estes locais foram usados durante o Inverno e que, sobretudo em redor de Stonehenge, eram o centro de grandes celebrações que podem ter culminado com a observação do pôr do Sol. Assim, a arqueoastronomia é mais um elemento que nos pode ajudar a compreender as sociedades passadas, as suas crenças e visões do mundo.
A arqueoastronomia é parte de um campo de estudo mais extenso conhecido como astronomia cultural, e que inclui também o estudo da etnoastronomia, assim como a história da astronomia e a história da astrologia.
O trabalho de um arqueoastrónomo tende a ser em parte o de um arqueólogo e em parte o de um estatístico. Envolve leitura, trabalho de campo e análise de dados, todos em iguais quantidades. A investigação literária é um ponto importante em qualquer área académica, particularmente em Humanidades. Em arqueoastronomia, é essencial ler o que outros académicos mencionaram sobre a sociedade em estudo, assim como o local ou os artefactos arqueológicos que lhe dizem respeito.
O trabalho no terreno é muito importante – e a parte mais divertida do trabalho. Envolve visitar efetivamente o/os local/locais para fazer medições e/ou fotografar o local relativo aos eventos celestes nas alturas indicadas. Posteriormente, as medições feitas durante o trabalho no terreno precisam de ser processadas e os dados analisados no escritório, podendo implicar uma combinação de ferramentas e abordagens estatísticas, fotográficas, fenomenológicas e computacionais.
A geração atual de arqueoastrónomos foi formada em ciências exatas (astronomia, física e engenharia), portanto a tarefa real consiste em compreender e assumir os desafios, prós e contras da investigação em humanidades. No entanto, há uma nova geração de arqueólogos celestiais que, juntamente com os astrónomos culturais, colocam a ênfase da sua formação nas humanidades e estudos culturais.
Mesmo assim, num futuro próximo, é provável que tanto os arqueoastrónomos como os astrónomos culturais tenham que se dedicar a novas sub-áreas de estudo, mais específicas, desde as humanidades puras até às ciências naturais puras.
São muito poucos os sítios no mundo onde é possível estudar este tópico de uma forma bem estruturada e com a devida certificação académica. A Universidade Trinity Saint David no País de Gales é a única no mundo onde se pode obter o grau de Mestre em Astronomia e Astrologia Culturais, que por sua vez abrange precisamente os campos de estudo referidos anteriormente.
Para além disso, inclui também o curso de Cenários Espaciais, Cosmologia e Arqueologia, que cobre praticamente todas as áreas de estudo que vão desde a investigação arqueológica até ao campo da arqueoastronomia e análise e interpretação de dados.
Como se trata de um trabalho bastante invulgar, há muito poucas vagas em arqueoastronomia. A maior parte dos arqueoastrónomos são investigadores académicos e tutores que frequentemente têm que se focar mais em outras áreas de pesquisa, tal como a astronomia ou antropologia/arqueologia. E mesmo assim só alguns deles têm a sorte de conseguir trabalhar apenas em arqueologia a tempo inteiro.
… estiver interessado tanto em astronomia como em antigas culturas e sociedades.
Se sentir confortável para trabalhar tanto em ciências naturais como em ciências sociais;
Se sentir motivado para viajar em trabalho (nem sempre sob as melhores condições climatéricas);
Ter uma verdadeira paixão pela cultura e período da História a que corresponde a sua pesquisa.
- Journal of Skyscape Archaeology
- Sophia Centre for the Study of Cosmology in Culture, da Universidade Trinity Saint David (País de Gales)
- European Society of Astronomy in Culture
- International Society for Archaeoastronomy and Astronomy in Culture
Imagem: Lua cheia em Stonehenge, no Reino Unido. Crédito: Pixabay.